Nem deu tempo de me emocionar com a surpresa de finalmente ver imagens focadas (!?) em uma tela de cinema araraquarense (sim, nesta cidade é raro). “X Men – Primeira Classe” arrebatou minha atenção sem a menor cerimônia, logo nos primeiros minutos. Deixa eu ver se consigo traduzir o fenômeno de “bom cinema de ação” operado ali sem estragar a surpresa de quem ainda vai assistir: preparem-se para um roteiro inteligentíssimo, desenvolvido em ritmo ágil, apresentado com imagens e efeitos especiais irretocáveis, cenas de ação de tirar o fôlego – como a de um submarino sendo erguido acima do mar – e bonificado por lindos e FANTÁSTICOS atores.
Tá bom, vai, vamos admitir umas falhazinhas temporais no roteiro, como a de antecipar para logo após a primeira batalha dos X-Men a cisão do grupo entre Xavier e Magneto, esquecendo que no terceiro filme (“X-Men – A Última Fronteira”) ambos aparecem na casa da futura Dra. Jean Grey – ela ainda criança – mais velhos que neste“…Primeira Classe“, aparentando ainda serem parceiros, para cooptá-la como aluna da escola de superdotados. Detalhe: Xavier ainda andava.
Tirando essa baita incongruência e o fato de nenhum filme anterior ter dado qualquer pista de que Místika foi irmã de criação de Xavier, pode-se dizer que o roteiro constrói de forma plausível (se é que se pode usar este termo em uma ficção científica sobre mutantes superdotados) a gênese dos X-Men e todas as experiências que moldaram as personalidades de Xavier e Magneto. A forma como é apresentado o surgimento e desenvolvimento da amizade entre ambos também explica convincentemente o antagonismo respeitoso e reverente que sempre permeou a relação de suas versões maduras dos filmes anteriores.
Os raciocínios filosóficos sobre a diferença, os medos e repugnâncias que ela provoca, estão todos lá de volta, após terem sido substituídos pela enxurrada de testosterona do roteiro de “X-Men – Origens: Wolverine”.
Tudo bem que esperava mais embates filosóficos entre Xavier e Erik/Magneto sobre a melhor postura ante a incompreensão humana com o diferente. Não passou de comentários soltos de Erik sobre como a segregação começa com a identificação dos diferentes e continua com planos de extermínio em massa, a exemplo do que fizeram com judeus nos campos de concentração, e com Xavier limitando-se a repetir que “temos que estar acima disso”. Mas não deixa de ser um começo para quem já cultiva o (bom) hábito de refletir, independentemente do tamanho do estímulo.
Carisma aos montes
Já sabíamos que o ódio nascido na guerra era o motor dos planos de vingança de Magneto, mas apresentar Xavier como um jovem doutorando “boa praça” e conquistador, em contraponto à sua postura centrada da maturidade, foi divertidíssimo!
Se você achava impossível uma combinação de charme e piadas sobre mutações genéticas funcionar em cantadas a mulheres, espere até ver o Xavier de James McAvoy fazê-lo. Que Místika resistiria a tal par de olhos azuis e um carisma daqueles? Só não foi páreo para um Erik/Magneto lindo de morrer e orgulhoso de sua diferença, coisa de que a metamorfa estava sedenta.
Falando em carisma, o elenco masculino tem para dar e vender, dos mais jovens atores (destaque para Lucas Till, Caleb Jones e Nicholas Hoult) aos veteranos. As atrizes estavam apenas bem (exceção superlativa a Jennifer Lawrence/Místika… a garota é das boas), mas nada que se compare ao duelo de magnetismo travado a cada cena de James McAvoy e Michael Fassbender, na pele de Charles Xavier e Erik/Magneto, respectivamente.
Michael Fassbender (lembram dele na cena tensa do bar em “Bastardos Inglórios“?) fez jus à distinção aristocrática do Magneto de Sir Ian McKellen. Kevin Bacon, então, que já não precisa provar mais nada em termos de talento, nos brindou com um daqueles vilões que AMAMOS odiar. Simplesmente irresistíveis… todos!
Ah sim… e para quem ficou no cinema para ver a cena extra do terceiro filme – aquela mesma que aparece após os letreiros correrem no fundo preto -, lembrem-se do nome que uma certa voz profere para a figura de branco ao lado de uma cama de hospital. A semelhança com o de uma personagem deste “…Primeira Classe” pode não ser mera coincidência (“Hello, M…”).